Vestígios da exposição

CFT164.087273.ic.jpg

O encerramento das celebrações do Duplo Centenário deu-se a 2 de dezembro de 1940, sendo a sessão solene de encerramento da Exposição do Mundo Português realizada no Pavilhão da Honra.

Dado o caráter efémero dos seus materiais, a maioria dos pavilhões seria demolido após o término da exposição, excetuando os “mais sólidos, de armação metálica (…) como os das alas laterais da Praça do Império” (Diário de Lisboa, 6-12-1940), ainda que não houvesse para eles um propósito. No início de 1941, Belém foi assolado por um temporal que iniciou inadvertidamente o arrasamento dos pavilhões, provocando estragos consideráveis em muitos deles e alertando para a sua fragilidade. Também a partir daquele ano, a gestão do espaço ficou a cargo da Comissão Administrativa do Plano de Obras da Praça do Império (CAPOPI). Com seria de esperar tendo em conta o âmbito da sua atividade, esta comissão não desenvolveu nenhuma estratégia que realmente abrangesse toda a área do certame, focando quase exclusivamente a sua ação nos espaços da Praça do Império e na zona envolvente da Torre de Belém, tendo sido rapidamente extinta em 1945. Várias podem ter sido as causas para a estagnação da reabilitação de Belém após a Exposição do Mundo Português: a morte inesperada da figura impulsionadora de Duarte Pacheco em 1943; a 2ª Guerra Mundial, que dificultava as importações das máquinas e dos materiais necessários para quaisquer obras; o desinteresse político relativamente a esta zona em detrimento da Cidade Universitária de Coimbra, a nova grande obra do regime.

Contudo, ainda subsistiram alguns espaços, pavilhões e elementos escultóricos da Exposição do Mundo Português, embora quase nenhum deles corresponda fidedignamente ao que existia em 1940, ao terem sido alvo de algum tipo de modificação. O núcleo da exposi­ção e que viria a comandar o resto do arranjo urbanístico da exposição, o Jardim da Praça do Império, sofreu diversas alterações e benefícios ao longo dos anos. Em 1961 inauguraram-se as obras de mosaicultura representando 30 brasões das cidades e províncias de Portugal Continental, Insular e Ultramarino e brasões da Cruz de Cristo e da Cruz de Avis, integradas nos espaços ajardinados da praça. Ainda se pode apreciar a Fonte Monumental de Cottinelli Telmo - reinaugurada no início da década de 1960, depois de abandonada a ideia da sua demolição, conforme os projetos de Cristino da Silva, e recuperada em 2004 por ocasião do Campeonato Europeu de Futebol - e os 4 lagos periféricos encimados por dois imponentes grupos escultóricos representando figuras míticas de dois cavalos com cauda de animais marinhos de António Duarte, que foram refeitos em pedra em 1944. O topónimo, atribuído por edital da Câmara Municipal de Lisboa em 24 de abril de 1948, foi escolhido numa perspetiva de valorização de expansão quinhentista, característica da toponímia do Estado Novo.

Em relação ao Padrão dos Descobrimentos, foi, numa primeira fase, demolido, após o temporal atrás mencionado. Em 1960, por ocasião das Comemorações Henriquinas (5º centenário da morte do Infante D. Henrique), foi feita uma réplica do Padrão original. No contexto da sua reedificação, agora em pedra, foram definidos os espaços internos do monumento, ascensor, salas e acessos, mas só em 1985 foram realizadas as obras necessárias que permitiram o posterior acesso pelo público ao miradouro, ao auditório e às duas salas de exposições. O desenho do espaço envolvente do padrão, onde se destaca a rosa-dos-ventos, é de Cristino da Silva.

A Nau Portugal, depois da exposição, foi vendida à Companhia Colonial de Navegação que a converteu, em 1942, no batelão costeiro “Nazaré”, servindo para transportes ao longo da costa continental. Curiosamente, a reconstrução foi da responsabilidade dos mesmos estaleiros que primeiramente a construíram.

Outros elementos que perduraram da exposição foram: o edifício do Espelho de Água, modificado por diversas vezes, nomeadamente por Manuel Graça Dias, entre 1988 e 1990; o farol que pertencia ao Pavilhão da Terra e do Mar; e vários elementos escultóricos - por exemplo, as duas colunas que encontramos entre os barcos da Associação Naval de Lisboa, a escultura de elefantes desenhada por Cottinelli Telmo (atualmente no lado Poente do Museu de Arte Popular, outrora na Secção Colonial), as quatro esculturas de figuras femininas na Praça Afonso de Albuquerque (da autoria de Barata Feyo), o arco oriental que dava entrada na Rua de Macau (atual Jardim Botânico Tropical, então Secção Colonial,) e as reproduções escultóricas de cabeças de indígenas do Império Colonial Português (espalhadas por todo o Jardim Botânico Tropical) -; e a Estação Fluvial de Belém, que, embora não pertencesse exclusivamente à exposição, coube no âmbito das comemorações dos centenários.

Em relação aos pavilhões, poucos foram alvo de recuperação ou adaptação para uma nova função. Um dos que sobreviveu foi o Pavilhão dos Descobrimentos, que foi adaptado para servir de instalações da Associação Naval. A 16 de fevereiro de 1945 foi entregue o edifício, que se converteu na sede da Secção de Vela e Motonaútica e entre 1959-62 foram realizadas obras de adaptação para albergar o Clube de Vela.

Também o Pavilhão da Etnografia Metropolitana ficou a salvo das demolições. A 6 de dezembro de 1941, a CAPOPI lançou o concurso público para a adjudicação da empreitada e modificação daqueles pavilhões para o Museu de Arte Popular; ainda mantém as características iniciais no seu exterior, mas o seu espaço interior sofreu algumas adaptações, modificações e reorganização para se coadunar com a nova função, a de acolher o museu. Sob o projeto do arquiteto-chefe Jorge Segurado, o Museu da Arte Popular abre as suas portas em 1948. Pela Portaria nº 263/2012, o edifício do Museu é classificado como Monumento de Interesse Público. A zona especial de proteção (ZEP) abrange um conjunto de elementos também ele resultante da Exposição do Mundo Português, nomeadamente o Padrão dos Descobrimentos, o edifício do Espelho de Água, inicialmente dedicado a Diversões Náuticas, o edifício da Associação Naval de Lisboa, e a Doca de Belém, onde esteve fundeada a Nau Portugal. (veja fotografias do museu em https://www.flickr.com/photos/biblarte/sets/72157624843406285)

Em relação aos dois maiores pavilhões da Exposição do Mundo Português, estes também foram readaptados. O Pavilhão de Honra e de Lisboa fora alvo de planeamento para o acolhimento de um Museu de Arte Contemporânea, mas o projeto não se concretizou e o pavilhão foi alugado à Comissão Reguladora de Comércio de Metais e posteriormente serviu de parque automóvel de uma empresa. Já o Pavilhão dos Portugueses no Mundo foi alugado à Sociedade Geral de Superintendência e à Comissão Suíça de Navegação.